O valor da renúncia
“Ora,
o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa
de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1).
Em um espaço de uma linha muito tênue, a minha vida se confunde com a do patriarca Abrão.
Vejo,
no chamado desse homem de DEUS, o meu chamado: “Fernando, Fernando!”. A
voz inconfundível do PAI que brada com autoridade misturada à suavidade
divina e ecoa dentro das veias do nosso coração. A voz que adentra
ouvidos surdos e faz enxergar olhos cegos.
No
meu caso, a Harã tinha o nome de Olinda, município no Estado de
Pernambuco. E a casa da qual teria que me apartar não era a do meu pai,
mas da minha mãe, dona Alzira. A terra “que Eu te mostrarei” também já
estava bem definida nos pensamentos do meu SENHOR: Brasília, capital do
Brasil.
Nasci
em Recife, a famosa Veneza Brasileira, e fui criado toda a minha vida
na velha Olinda, conhecida por sua beleza secular. Pernambuco fora a
minha maternidade. Recife, Olinda e Pernambuco eram como ídolos na
estante da minha alma.
Minhas
raízes e toda a minha história remontam para lá. Meus amigos, minha
formação, minhas travessuras e, sobretudo, meu desenvolvimento pessoal.
Meu coração era revestido com a bandeira daquele lugar.
Observe
como, humanamente, seria muito difícil para mim ter que um dia me
apartar de toda essa colcha de retalhos sagrados. Trinta e nove anos
vivendo na mesma terra, com as mesmas pessoas, repaginando cada folha
das minhas paisagens eternas.
Mas
um dia ouço o SENHOR me chamar: “Fernando, sai da tua terra amada, da
tua parentela, de perto da sua mãe, sobrinha e irmãs, a quem tanto amas,
e siga para a terra que te mostrarei”. Foi exatamente assim.
Quando
o homem ouve a voz do SENHOR, ela se torna irresistível. Ou se obedece
ou se vai para a barriga do peixe, como aconteceu com o profeta Jonas...
Assim como fez a Abrão, todo chamado é acompanhado de uma grande promessa: “E
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu
nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gênesis 12:2-3).
Afastar-me
das minhas cidades e do meu Estado natal, dos meus parentes, dos amigos
que fiz, de uma vida aparentemente tranquila, era algo extremamente
complicado de obedecer para mim. Largar a minha profissão de professor,
depois de 17 anos de sala de aula, e depois de muito batalhar para
entrar em uma Universidade Federal; deixar para trás uma vida financeira
segura; e abraçar um vazio de promessas; só seria possível através de
muita fé e de um coração temente.
Na
época em que o SENHOR me chamou, havia três cidades que eu JAMAIS
gostaria de morar: Brasília, Rio de Janeiro e Salvador. Os mais próximos
a mim sabiam de minha angústia, tristeza e ojeriza em relação a esses
três lugares.
Mas,
mesmo assim, o SENHOR disse-me que eu iria para Brasília, terra seca,
clima péssimo e de uma culinária horrível para o meu paladar; e ainda
que eu iria ser sustentado por um povo, que me abençoaria. Nada havia de
concreto em minhas mãos. DEUS sempre nos convida a experiências novas,
por vezes, perigosas aos nossos olhos.
Fui
para Brasília ainda sem mulher, sem filhos e sem emprego. Morar de
aluguel. E ainda por cima: para ser pastor de ovelhas repudiadas.
Era
o momento de eu conhecer o valor de uma renúncia. Renunciar o simples e
o desejadamente possível é muito fácil. Muito difícil é renunciar
aquilo que segura a alma e o faz dependente. Renunciar a uma vida, a uma
história. E recomeçar do zero onde não se gostaria de estar.
Creio
que não tenha sido nada fácil para Abrão. Fora o seu primeiro e grande
chamado. Mas DEUS conhecia o seu coração e sabia do desejo em
obedecê-lo. Canaã representaria uma terra de lutas, de conflitos, de
ameaças, de gigantes, mas de grande vitória. Essa era a terra que o
SENHOR tinha separado para ele. E as provas não parariam por aí.
Adiante, já Abraão, o SENHOR pediria a vida do seu único filho, Isaque,
em sacrifício no Monte Moriá. De novo a voz fazia-se ecoar em seus
ouvidos: “Abraão! Abraão!” (Gênesis 22:1-2). De novo Abraão fora chamado
para renunciar. E, calado, seguiu em obediência.
Assim
que uma pessoa acaba de renunciar a algo, logo vem DEUS novamente
fazendo novos convites de renúncia. Por que a todo tempo somos impelidos
a renúncias diárias e constantes? Porque tudo o que chega até nós é
produto que destrói a nossa alma. E só nos preservaremos dessas coisas
através de uma vida de santidade e renúncia.
Já
em Brasília e depois de ter renunciado a tanta coisa, o SENHOR mostra
para a igreja, da qual sou líder, que ela teria que guardar todos os
Seus Mandamentos. E fizemos a mesma pergunta do jovem rico: “Quais
Mandamentos, SENHOR?” (Mateus 19:18). E o SENHOR nos respondeu:“Não
terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti imagem de
escultura; Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; Lembra-te do
dia de sábado para santificá-lo; Honra teu pai e tua mãe; Não matarás;
Não adulterarás; Não furtarás; Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo; Não cobiçarás a casa do teu próximo” (resumo de Êxodo 20:3-17).
Cada Mandamento desses representa um chamado de renúncia diferente.
Por
exemplo, guardar os sábados e santificá-los era algo que fugiria
totalmente ao padrão normal da igreja, acostumada a utilizá-los para
passeios e encontros com amigos nas poltronas dos cinemas ou nas mesas
dos centros comerciais. Todos os que congregam em Brasília vieram de
templos e denominações protestantes, onde nenhum líder ensinou sobre a
necessidade de guardar todos os Mandamentos de DEUS à época da Graça.
Muitos trabalham e estudam nos dias de sábado. Sábado era um dia de
lazer para a carne; e não de descanso espiritual.
Lá
iria Fernando, que separava os sábados para ver o futebol na TV em
casa, ter que renunciar novamente por amor a mais a esse chamado de
DEUS.
Guardar
sábado é fazer qualquer coisa que seja para a glória de DEUS: socorrer
alguém, evangelizar, amar, congregar, orar, louvar; fugir de qualquer
coisa que seja para glorificar o nosso EU ou a nossa carne.
Sei que, somente assim, poderei compreender o valor das palavras de JESUS: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23) (grifo meu).
Toda
renúncia é prazerosa quando se quer agradar a DEUS; mas muito penosa,
sofrida, quando nosso coração ainda está inclinado a realizar os desejos
da nossa carne. DEUS não quer que renunciemos a algo por obrigação, por
imposição de uma lei ou de uma letra, mas em espírito, por amor a ELE.
E
aqui estamos todos nós, juntinhos, unidos em um mesmo propósito:
guardar todos os Mandamentos para agradar a DEUS. Do mesmo jeito como
JESUS fez como homem aqui na terra. Leia João 15:10.
Brasília,
para mim, é como uma Canaã. Aqui também há gigantes espirituais, mas
há, principalmente, as mãos de DEUS sobre nós. Temos essa confiança. E
se elas estão sobre nossa vida, nada poderá nos deter; a vitória é mais
que certa.
Renunciar
é ser repudiado, com poucos anos de casado; querer se casar de novo, e
não fazer, porque isso não agradaria ao meu SENHOR. Renunciar é ter o
desejo vivo e ardente de voltar a morar em Olinda, beira-mar e com uma
culinária maravilhosa, perto da família e dos amigos; e não fazer,
porque essa não é mais a vontade de DEUS para a minha vida. Renunciar é
viver onde não se quer; é comer o que não se gosta; perdoar e amar quem
não merece; orar por quem nos persegue; oferecer o outro lado do rosto,
quando já bateram na outra face; enfim, é fazer qualquer coisa que não
gostaríamos para o Nome do SENHOR ser glorificado em nossa vida.
Só conhece o valor de uma renúncia quem, definitivamente, tem o coração inclinado para agradar e servir a DEUS.
Não fazer o que gostaríamos. Esse é o nosso grande chamado e o nosso maior desafio.
Que o SENHOR nos ajude!!
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